sábado, 31 de janeiro de 2015

Em busca de Michelangelo








Michelangelo Buonarrote
Sempre que via fotos dos trabalhos de Michelangelo nos meus livros de arte, ficava indagada com a figura de "David". É estranho como essas sensações nos envolvem desde sempre... eu me lembro dessas sensações desde que era muito criança...
Eu sou uma pessoa que, quando fica diante de uma obra desse porte, tem todos os tipos de reações (no corpo e na alma!). Fico parada, perplexa, divagando em pensamentos que misturam uma torrente de calafrios, felicidade, choro, angústia e até mesmo uma imensa vontade de gritar! Não! Não se assustem! Isso é natural para quem ama a história que arte conta...
Ver "David" pela primeira vez, há uns cinco anos atrás, me fez sentir falta de ar em plena Galleria dell' Accademia, em Firenze (Toscana). Eu tremi, chorei e tive uma crise perfeita de euforia! (procurem no Google por "Síndrome de Stendhal"!!!).
E assim, depois de conhecer o gigantesco bloco de mármore em forma de "Perfeição", passei a seguir todos os passos de Michelangelo, perseguindo sua história, tentando descobrir seu cotidiano fiorentino e, quem sabe, encontrá-lo em algum canto de Firenze...
Todas as vezes que volto à Toscana, a minha necessidade de encontrar rastros desse artista se torna maior. Vou buscando informações pelos museus, livros, sonhos, ruas minúsculas e medievais que levam sempre aos cantos prováveis por onde ele andou. (será que hoje você vira essa esquina?)...
Na segunda visita ao rei "David", eu consegui conter a emoção e me sentei em frente a ele. Desenhei por horas, estudei as mãos, os pés, as veias de mármore que parecem pulsar e fazer o belo rapaz explodir o bloco de mármore que o prende há tantos séculos!
E voltei mais uma vez e outra vez.

Na última visita, no ano passado, minha felicidade se intensificou ao descobrir que as fotos estão liberadas dentro da Galleria dell' Accademia (sem flash, é claro!). E então, após respirar fundo e puxar com o ar a minha alma, fiz algumas fotos de uma das mais lindas obras que o mundo já teve! E eu sentia a aprovação de Michelangelo, porque ele sabia que um dia eu o encontraria. E ele estava lá, o tempo todo... cuidando de sua criatura, como todo bom Mestre deve fazer.

(Michelangelo iniciou a escultura de "David" em 1501, na cidade de Firenze, Toscana - Itália)

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Sob o Sol da Toscana (Cortona)

Pequena muralha em Castiglion Fiorentino (ponto de ônibus)

Ponto de ônibus 


 Vista pela janelinha do ônibus (Cortona)


Muralha (Castiglion Fiorentino)


A manhã daquele dia de setembro parecia propícia para sairmos em busca de um novo lugar, de uma nova cidade. Nosso trem para Arezzo partiu pontualmente da estação de Santa Maria Novella, em Firenze.
Já fazia tempo que eu tinha essa vontade de conhecer Cortona, pois havia visto num livro, textos maravilhosos a seu respeito, onde a autora descrevia uma linda "piazza" onde os habitantes tinham ali uma vida de convivência e cotidiano.
Como todas as viagens se tornam aventuras quando não estamos em nosso país, é claro que não foi tão simples chegar em Cortona... Na estação de Arezzo, a moça do balcão de informações nos disse para irmos até uma pequena praça, onde teríamos informações específica (aqueles postos, de ajuda aos turistas). Lá, fomos informadas que um ônibus sairia "direto" para Cortona, mas que teríamos que andar bem rápido por conta do horário.
Chegamos ao pequeno terminal, mas a placa de informações não nos contava absolutamente nada sobre o ônibus que esperávamos... O sol estava quente, os alunos de uma escola próxima estavam se aglomerando no ponto por conta do horário de saída. Todos entravam em seus ônibus e partiam felizes para suas casas. Nós não...
Finalmente um garoto brasileiro (estudante e morador de Arezzo), nos informou que não havia um ônibus que fosse direto para nosso desejado destino. Descobrimos que teríamos que ir até um lugar chamado Castiglion Fiorentino, onde trocaríamos de ônibus para chegarmos em Cortona.
Entramos e o motorista nos disse que teríamos que comprar os bilhetes na rua (lá eles são vendidos em tabacarias, bancas de jornal...), mas que nos levaria sem cobrar e que na volta poderíamos entregar o bilhete a ele. Achamos engraçado, mas seguimos viagem mesmo assim.
Em Castiglion Fiorentino, tivemos que esperar por muito tempo pelo nosso ônibus. A espera foi compensada pela paisagem, pois os pontos eram distribuídos na extensão de uma pequena muralha, onde estudantes e alguns turistas aguardavam seus horários de partida.
Finalmente entramos no nosso ônibus! Curtimos cada visão da paisagem da estradinha sinuosa, ladeada pelos típicos pinheiros verde escuro da Toscana.
O encantamento foi aumentando conforme subimos pela estrada. Castelos, vilarejos, céu azul... e ao lado direito da estrada, podíamos ver a linda Cortona, encravada na montanha, subindo até o topo!
Chegamos e nos encantamos com a grande muralha etrusca!!!! Maravilhosa, cheia de respeito e história. Nos dirigimos até o portão principal da muralha e, surpresas, olhamos assustadas para o tamanho da ladeira que teríamos que subir para chegarmos ao núcleo principal da cidade!
Na ocasião, eu e Susi estávamos, coincidentemente, passando por um momento difícil, onde dores pelo corpo nos deixavam desanimadas, mesmo estando num dos mais lindos lugares do mundo... Minha amiga estava parada, olhando a rua reta que subia... ("e agora"?)...







Susi, encantada com a loja de materiais para caligrafia e encadernação!

Enfim, depois de muitas paradinhas para descanso, vontade de voltar e até mesmo algumas lágrimas de dor, subimos e chegamos ao alto da ladeira, de onde olhamos para baixo e, além, de vermos tudo o que havíamos subido, fomos presenteadas por uma paisagem perfeita!
A rua "reta" e principal partia de uma piazza larga (Piazza Signorelli), movimentada e ladeada de lojinhas, floricultura, mercadinho e ruas que nasciam ali. Ficamos paradas por um tempo, olhando, retomando o fôlego e admirando.
Andamos lentamente, olhando tudo com carinho, fotografando os cantinhos, as escadarias, os noivos que caminhavam sossegadamente para o fotógrafo registrar o momento mágico deles. Fomos até o fim da rua reta e paramos para um gelato, para um brinde à nossa subida, à nossa cidadezinha valiosa, etrusca e linda.
Voltamos ao início da rua e almoçamos um delicioso macarrão com trufas valiosas. Trufas douradas e negras. Trufas iguaizinhas às do livro que li e que descrevia tão fielmente aqueles sabores que estávamos experimentando.








As dores no meu quadril pareciam esquentar cada vez mais... doía até chegar na alma, mas naquele momento eu só conseguia agradecer a Deus por me permitir contemplar tanta beleza! As dores ficaram guardadas no fundo da bolsa. Cortona estava alí e eu não podia nem pensar em sentir dores!


Partimos mais uma vez por nossa ruazinha movimentada. Fomos até um mirante, onde o grande vale se estendia até o infinito.Céu azul. Sol quente e toscano.
Susi estava encantada pelos telhados antigos, pela vista que parecia um mar de telhados que contavam a história do tempo. Fotografamos tudo o que encontramos e que nos encantou. Nosso ânimo foi renovado e passeamos pelo resto da tarde.










Tentamos adiar a volta, mas o ônibus tinha horário fixo e, portanto, tivemos que deixar a cidadezinha etrusca para trás... Compramos os bilhetes para o ônibus (sem esquecermos daqueles que ficamos devendo, é claro) e descemos nossa ladeira, quase que sem palavras na boca... descemos prometendo voltar...















Entramos no ônibus que nos levaria até Castiglion Fiorentino, mas descobrimos que ele iria direto para Arezzo. A viagem de volta foi confortante e cheia de novas fotos. A estradinha foi se tornando escura e linda com as silhuetas dos pinheiros. Os grandes abismos pareciam sonhos. A estrada nos convidou a voltarmos numa próxima vez. Aceitamos.
Chegamos em Firenze à noite. Seguimos caladas até nosso pequeno hotel. Dia perfeito. Dia em Cortona. Sob o sol da Toscana.
Saudades desse dia. Saudades dessa alegria.